domingo, 29 de novembro de 2009

estação da luz: passarela do sexo

Foto: Lívia Ramirez


Às 18h, apitos são ouvidos dentro do Parque da Luz. Quem visita o local pela primeira vez pode demorar a entender. O lugar está fechando. Os freqüentadores começam, a passos lentos, a deixar o local. A peregrinação termina do lado de fora do portão, onde famílias, moradores de rua embriagados, flanelinhas e garotas de programa se misturam. O pipoqueiro lucra com a pequena multidão.

Sentada na mureta do parque, uma senhora japonesa na casa dos sessenta anos tem uma garrafa de cachaça na mão e copos em outra. Já bastante bêbada, começa a cantar alto, dando risada, ao ver tanta gente na calçada. Serve uma dose para si mesma e outra para um morador de rua, que dá algumas moedas pela bebida. Uma das mulheres que fazia ponto no parque também aparece pegar um copo. Ela, que já andava com dificuldade, vira a pinga e sai trançando ainda mais as pernas. Com o efeito da cana, esquece a discrição habitual e aborda diretamente alguns homens, chamando em voz alta e sorrindo – a maioria dos dentes estragados ou já ausentes.

A Estação da Luz, logo à frente, com suas luzes já acesas no início de noite, é o ponto de despedida de algumas meretrizes. Mas nem todas encaram o fechamento do parque como fim do expediente. E é na própria estação que continuam o trabalho. Algumas já se posicionam nos muros da rua Mauá antes mesmo do fim das atividades do parque. Uma senhora negra usando um vestido simples e portando sua bolsa a tiracolo discute com um dos seguranças da estação ferroviária. “Olha, vocês fazem o de vocês que a gente faz o nosso”, responde o homem, nervoso, encerrando a conversa.

Um senhor do chapéu, que tocava pandeiro na praça, e seu parceiro de música, ainda embriagado, também vão para a Luz. No saguão de entrada, aproveitam a instalação de um piano, disponível para ser tocado por qualquer pessoa. O instrumento faz parte de um projeto da CPTM que começou em outubro de 2008 e deveria durar poucas semanas, mas foi prorrogado indefinidamente devido ao sucesso. Tirando o chapéu, o velhinho se senta e arrisca alguns toques sem melodia, acompanhado sempre pelo mesmo refrão de Martinho embalado pelo colega.

No mesmo salão, mulheres que estavam no Parque da Luz começam a circular, andando lentamente de um lado para o outro. Param em um canto. Dão a volta. Vão para as portas. Sempre à espera.

Após as 18 horas, a passarela que a rua Mauá à avenida Cásper Líbero por dentro da estação ferroviária, passando por cima das plataformas de trem, poderia ser chamada de “passarela do sexo” pelos mais atentos. Os cerca de 40 metros que ligam uma entrada a outra da construção ficam cheios. O vai e vem dos passageiros é ininterrupto. Mas alguns rostos são sempre os mesmos. As garotas que saíram do Jardim da Luz não esperam nenhum trem. Como se fossem modelos,desfilam pelo corredor, indo e voltando, sem pressa alguma.

***

José chega caminhando lentamente, olhando com atenção em volta. Alto e corpulento, ele veste uma camisa social branca por fora das calças jeans, o primeiro botão aberto. A barba por fazer realça a aparência de cansaço, mas os olhos denunciam uma certa impaciência. O olho esquerdo permanece estático enquanto o outro passa atentamente pelas moças que estão por ali. Uma análise mais atenta revela: é um olho de vidro.

Ele dá uma volta completa pela estação, sempre atento ao que acontece ao redor. De repente para e aborda uma negra alta e forte, já na casa dos sessenta anos. Fala no ouvido dela por alguns instantes. Ouve uma resposta ríspida e sai dali, sem responder. Anda por mais cinco minutos antes de abordar outra mulher, uma loira. A conversa dura mais. Mas, oito minutos depois, José está novamente sozinho, circulando a passos rápidos pela passarela que liga o parque à rua Mauá.

Uma morena passa andando devagar, uma bolsa a tiracolo. José chama e falam por apenas alguns instantes. Ele parte então para a porta, onde duas amigas conversam enquanto aguardam por algum cliente. Mais dois minutos com as duas e nada. Ele sai novamente sozinho e dá a volta pelo salão, saindo pelo outro lado da estação. Começa a abordar mais mulheres entre as que estão encostadas nas paredes. Depois de mais quatro tentativas, está de volta ao saguão principal da Luz, andando freneticamente de um lado para o outro.

“Tô procurando uma menina aí que eu saio sempre, né. Pelo jeito ela não ta, não. Aí fico conversando com as outras, tentando alguma coisa, mas não to gostando delas não”, explica José. Comerciante, ele trabalha na famosa rua 25 de março. Aparece pelos lados da Luz quase todas as semanas, sempre atrás da mesma mulher. Passando a mão pelos cabelos onde já aparecem os primeiros fios grisalhos de seus quarenta e cinco anos, conta que chegou a freqüentar algumas boates, mas que nunca foi algo freqüente.

Nos últimos tempos, porém, após terminar um namoro de nove anos, acabou indo procurar companhia por ali. “Eu morava junto com uma mulher, aí quando terminamos comecei a vir aqui sempre. Sabia que tinha umas mulheres, mas nunca tinha feito nada no parque”, lembra. Gasta sempre a mesma coisa, dinheiro contado: vinte e cinco reais por uma hora de sexo e o aluguel do quarto do hotel mais próximo. Enquanto conversa, continua atento à movimentação nos arredores. “Fico pensando que ela tá no hotel com algum cara e pode sair. Vou ficar mais um pouco e se ela não aparecer, vou embora”.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Uma volta pelo Parque da Luz

Foto: Lívia Ramirez



Saindo da Estação da Luz, basta uma caminhada rápida e alguns lances de escada para se avistar os portões do Parque da Luz. Em seu terreno está também a Pinacoteca. Vizinho ao local, o moderno Museu da Língua Portuguesa. Tudo isso atrai turistas ou transeuntes que passam por ali em busca de arte, natureza e paz. E também homens de todos os tipos – em busca de sexo.

O espaço que recebe até quatro mil pessoas aos domingos e feriados possui coreto, playground, casa de chá, gruta, espelho d´água, obras de arte. Entre as árvores e bancos de concreto, turistas, aposentados, moradores de rua e profissionais do sexo dividem os mesmo espaço. Parte dos frequentadores passa pelas prostitutas sem sequer imaginar a profissão daquelas mulheres. Estão longe de corresponder ao estereótipo que habita o imaginário popular. Nada de pouca roupa ou maquiagem carregada. Ali a maioria usa figurino discreto: vestidas com calças jeans, moletons ou vestidos longos. Elas também pouco sorriem para os possíveis clientes – a maioria aposentados e trabalhadores da região. Não costumam abordar descaradamente os homens. Nada de ‘psiu’ ou encaradas provocantes. No parque da Luz, eles é que devem procurar a aproximação.

A maior parte das mulheres que trabalha ali não difere das garotas das boates ou privês apenas na abordagem branda, quase inexistente. Quase todas já passaram dos quarenta anos e muitas já estão além das cinco décadas. Carregam sempre uma bolsa a tira colo e ficam sentadas em algum banco ou em pé, paradas. Às vezes caminham até outra amiga, conversam por alguns minutos, comentam o movimento e voltam a se fixar em algum local, esperando pela aproximação de possíveis clientes.

Márcia aparenta mais de quarenta e cinco anos. Negra, ostenta tranças nos cabelos e sorri pouco, talvez para não denunciar a falta dos dentes superiores. Fala com timidez e veste roupas que quase não exibem o corpo fora de forma. “Só estou aqui há quatro meses, e não venho todos os dias. Quando preciso de dinheiro não existe outro jeito”. Ela conta que outras mulheres também usam a região em casos de emergência.

***

Uma roda de curiosos se junta em volta de um senhor de cerca de cinqüenta anos. Usando um chapéu branco característico dos sambistas cariocas, toca um pandeiro animadamente, acompanhado pelas palmas de alguns dos espectadores. Um morador de rua se aproxima, nitidamente embriagado, dançando com animação e começa a cantar uma música de Martinho da Vila. “Passei no vestibular...mas a faculdade...é particular...”. Termina o verso e começa a rir, revelando os poucos dentes ainda existentes na boca. Então volta a entoar o trecho da música. E segue cantando sempre a mesma frase. As pessoas em volta riem e continuam a acompanhar a brincadeira.

Alheio à movimentação, um homem passa pela rodinha e desce pelas trilhas do parque. Passa pela gruta, contorna o lago, o coreto. Volta para a entrada do jardim e se aproxima de uma mulher que está parada há algum tempo por ali. A ruiva - um tanto acima do peso – veste blusa e saia pretas e um par de botas marrom. A negociação entre os dois não dura mais de cinco minutos. O valor dos programas por ali varia entre quinze e quarenta reais – mas normalmente sai por vinte. Ainda é preciso pagar cinco pelo período nos motéis onde a relação se concretiza.

Tudo acertado, o casal recém-formado deixa o parque pelo portão principal, lado a lado, os dois conversando como velhos amigos. Atravessam a estação da Luz calmamente e saem na rua Mauá, onde sobem as escadas de um motel.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

dez reais, dez minutos

Foto: Lívia Ramirez


São oito horas da noite quando um carro da Polícia Militar passa em baixa velocidade pela rua Guaianases. Um dos policiais avista três homens parados em um canto da rua quase deserta e coloca a cabeça para fora. Ordena que fiquem onde estão. Descem então três PMs da viatura e vão até os suspeitos. Mão na parede, revista meticulosa. Até camisetas e bonés são retirados e verificados.

Um dos policiais vai até uma das montanhas de lixo que se espalham pela calçada da Guaianases. Revira algumas sacolas e papelões. No meio da sujeira, encontra algumas pedras de crack. Nos bares ao redor, silêncio. Os clientes param para acompanhar a ação. Tudo acontece em frente a três prives - casas dedicadas exclusivamente ao sexo pago -, onde a luz acesa na entrada revela que tudo continua, ignorando a movimentação lá fora.

Em um deles, a Casa Rosa, uma íngreme escada vermelha leva até o hall principal. A entrada é discreta. Nada diz que ali funciona um estabelecimento "da luz vermelha". Na sala, a gerente do local está sentada, os pés apoiados em uma velha mesa de madeira. “Aqui, é dez reais, dez minutos”.

Um oriental vestindo camisa social e calça jeans se aproxima, mãos dadas com uma garota. “Vou com ela”.
“Quanto tempo o senhor vai ficar?”, pergunta Fabiana.
“Do jeito que eu to, vou ficar logo uns três dias”, brinca o sujeito. Depois, mais sério, paga por meia hora de programa. O dinheiro é dado na hora. Fabiana anota em um caderno. “Carla – 30 minutos – 30 reais”.

O casal recém formado vai para um dos quartos, divididos por paredes de madeirite. Em poucos minutos, é possível ouvir da sala os gemidos do japonês. A parede que limita o pequeno quarto chega a tremer com a força da relação.

terça-feira, 24 de novembro de 2009


no escurinho do cinema


Em uma travessa entre a Ipiranga e a Rio Branco, fica o Cine Teatro Santana. O lugar é grande, mas a fachada aparenta abandono – tinta desbotada e descascando, catracas antigas e enferrujadas. Na bilheteria, um papel impresso colado no vidro embaçado anuncia diversos shows eróticos e seus horários.Alguns cartazes com mulheres nuas ilustram o convite para os espetáculos. Passando pelas catracas, chega-se ao corredor que leva até a sala de projeção. Ali fica também um bar, onde o atendente se preocupa mais com a televisão do que com os eventuais visitantes. Uma porta com uma cortina de lona rasgada e empoeirada separa o corredor do cinema.

A sala é como a de um cinema comum, mas pequena e com pouco espaço entre as fileiras, preenchidas por cadeiras estofadas . Na tela, um filme pornô americano. Gemidos altos saem pelas caixas de som e enchem o ambiente. Na platéia, poucos homens – cinco ou seis naquela tarde, a maioria prestando atenção ao filme. À primeira vista, nenhuma garota no local. Mas gemidos revelam que estão todas em um único lugar, um canto próximo à entrada. Ali, um senhor de cerca de sessenta anos recebe um boquete de uma garota enquanto um rapaz mais novo se atraca com uma loira. Uma morena se divide entre os dois homens e se agarra também com as colegas. As mulheres gemem alto. “Vai gostoso, vai”, enquanto se dedicam a satisfazer os clientes. O velho então goza, ali, no chão mesmo. O outro sujeito parece se cansar e vai embora. O senhor conversa um pouco com as garotas, em voz baixa, o pênis ainda para fora da calça. Depois de se despedir com um beijo no rosto, fecha a braguilha e deixa a sala.

As meninas saem com o velho para voltar após poucos minutos. Partem em direção à platéia, em busca de mais um cliente. Um rapaz levanta o braço, chamando. A loira e a morena vão até ele. Conversam durante um minuto. Uma das mulheres sai da sala enquanto a outra desce com o garoto, que aparenta vinte e poucos anos, para a primeira fileira da sala. A loira retorna, dois copos de cerveja na mão. “Pagando uma cerveja, que é dez reais, você pode namorar gostosinho aqui no salão”, explica Jana. A brincadeira pode ser nas poltronas mesmo ou nos cantos do cinema, em pé. “Se você ficar com vergonha, dá pra colocar um pano na luz ali”, sugere. O programa completo sai por quarenta reais e é feito em um reservado. “Não é bem um quarto. Quer dizer, é, mas eles não investiram. Mas dá pra se virar”.

sou puta

“Não sou garota de programa, não. Sou puta. P U T A, pode falar assim, que eu acho melhor”. Diana é direta. Nascida em Cruz das Almas, cidade próxima de Feira de Santana, na Bahia, chegou em São Paulo com dezesseis anos, trazida pela mãe. Tem poucas lembranças do pai. Sabe que ele foi assassinado. Na época, Diana tinha sete anos. Curiosa, tentava fazer a mãe explicar o que tinha acontecido. Ela não dizia nada, então o assunto ficou por isso mesmo. Não demorou para brigar em casa. Depois de mais uma discussão com a mãe, decidiu ir morar sozinha. Sem emprego, sem planos, sem dinheiro.

No começo, conseguiu se virar bem. Arrumou trabalho como auxiliar de limpeza. Depois virou auxiliar de cozinha, de depósito. Uma amiga, então, revelou que estava trabalhando como garota de programa em uma boate no centro. E ganhando bem. Diana ficou tentada e acabou indo conhecer a "Garota de Ipanema", na rua Aurora. Ficou por lá. “Que mulher que começa nessa vida vai querer depois ir trabalhar por 400, 500 reais? Deixar de comprar bolsa, roupa, celular? Só para quando fica velha, muito feia. E algumas não param nem assim, né”.

O cotidiano de Diana, porém, não é tão fácil quanto ela faz parecer quando conta, rindo, sobre o último programa que fez. Todos os dias, faz a viagem de sua casa, em Jundiaí, até a Luz – uma hora e meia de trem. O expediente no Garota de Ipanema normalmente vai até as 22 horas. Mas, às vezes, quando há clientes e a noite está boa, ela fica até mais tarde e acaba dormindo ali mesmo, em um dos quartos da boate. “Não gosto né, não tem nada como dormir na nossa cama, mas às vezes é o jeito pra ganhar um pouco mais”, explica.

O assunto preferido de Diana são seus clientes. Muitos são fixos: aparecem sempre na casa já procurando por ela. Esses ela chama de “maridos”. “Puta também é psicóloga. Tem cara que vem aqui e paga cerveja pra ficar conversando, pra chorar, reclamar do chefe, da mulher, da vida”, conta ela. “Uma vez eu tava dançando no palco e um cara me abraçou e começou a chorar. Ele falava ‘eu te perdôo, Núbia, te perdôo por você ter me chifrado, eu te amo’. Entrei no embalo e acabei ganhando mais um marido”, lembra Diana, rindo.

Um dos “maridos” de Diana é Marcelo. Caminhoneiro, ele adotou o Garota de Ipanema como um dos pontos obrigatórios em suas passagens por São Paulo. “Ele é lindo de morrer. Um loirão alemão de um metro e noventa, forte, um dos caras mais bonitos que já entrou aqui”, diz a garota. Casado com uma mulher em Goiás, o homem uma vez apareceu na boate junto com um amigo. “Era um negão forte pra caramba, que ficava me olhando feio”, lembra Diana. Naquela noite, Marcelo propôs um programa em conjunto – ele, o amigo e a garota. Diana não queria, mas acabou topando. “Aceitei porque era um cliente bom, que sempre gastava bem. Mas tava com medo daquelas duas cobras enormes”.

Os três entraram no quarto, mas apenas Marcelo transou com Diana. Bruno, o amigo, ficou num canto, assistindo tudo. Então, depois de terminar o serviço com a garota, Marcelo chamou Bruno para a cama. “Mas agora você vai só assistir, querida”, disse ele para a baiana. Os dois transaram se revezando na posição de ativo e passivo. Diana ficou impressionada com a cena. “Nunca vi coisa igual. O cara lindo de morrer, casado...e gosta de homem e mulher. É coisa de maluco”.
Ver dois homens transando, porém, não foi das coisas mais difíceis. Entre as listas de fantasias extravagantes de clientes ela aponta o advogado Carlos como um dos que chegou mais perto de testar seus limites. Bem vestido, o homem contrastava com a maioria dos visitantes da boate. Falava pouco e já começava a beber. Pagava tantas bebidas que poderia aproveitar ali mesmo, transando nos sofás da casa, como muitos fazem ao encher a comanda. Mas o desejo de Carlos era impossível de ser atendido ali, sob o olhar de todos.

Nada de sexo. Ele entrou no quarto, deitou na cama com Diana e logo pediu: “abaixa a saia e mija na minha cara”. Primeiro ela riu, disfarçou, com medo de ofender o cliente, e disse que não sabia se conseguia. Os vários copos de cerveja que havia tomado com o advogado no salão da boate ajudaram. Realizou o desejo e achou que já estava livre. “Pensei que ele ia tocar uma punhetinha e ia embora, mas aí ele me pediu pra bater, bater com vontade”. Foram vários tapas na cara. Com medo de machucar o homem, Diana maneirava no peso da mão. Ele queria mais e mais forte. O rosto ficou vermelho, cheio de escoriações. Também levou alguns chutes perto da costela. Por fim, abriu a maleta e pediu que a morena introduzisse um vibrador no ânus. “Meu ou seu?” perguntou já em tom de reclamação. No dele, que gozou após cerca de uma hora que, para a baiana, pareceu uma eternidade.

“Fiquei com medo. Tanta coisa estranha que o cara pediu, a gente nunca sabe o que vai encontrar. Tem bêbado, desequilibrado, drogado”, comenta Diana, que gargalha enquanto conta a história.

apresentação

A região conhecida como Quadrilátero do Pecado é o cenário do livro Glamour e Boca do Lixo, escrito por quatro estudantes de jornalismo. A intenção deste blog é publicar alguns trechos da obra , além de algumas histórias que acabaram não entrando na versão impressa. Sejam todos bem vindos.


do glamour à boca do lixo


Na década de 40, o então governador de São Paulo Adhemar de Barros instituiu uma lei que restringia o meretrício ao bairro do Bom Retiro – nas ruas Aimorés, Itaboca e suas travessas.

A restrição, porém, não durou muito. Em 1953, o governador Lucas Nogueira Garcez derrubou o decreto. A polícia invadiu a Zona de Tolerância. A intenção era acabar com a prostituição. A lei e a ação policial, porém, acabaram apenas por acabar com a zona de confinamento. Despejadas, as mulheres partiram para morar em pequenos hotéis, pensões e pequenos apartamentos no bairro dos Campos Elíseos, nas proximidades da Estação da Luz. Não demorou para que as ruas da região tivessem paisagem parecida com a da antiga Zona. Junto com as prostituitas, bares, hotéis, restaurantes e salões de beleza surgiram para atender ao grande número de prostitutas que começava a atuar na região – e ao número muito maior ainda de clientes que as procuravam.

Formava-se então o que seria chamado de Quadrilátero do Pecado. A área ganhou o nome pelo desenho de sua delimitação no mapa da cidade – e pelas inúmeras casas de prostituição e mulheres passeando por suas calçadas e oferecendo programas. O desenho tem início na rua Mauá, a poucos metros da estação da Luz, e prossegue pela rua dos Protestantes, passando pela Rua do Triunfo e chegando à Avenida Ipiranga. Continua na famosa esquina com a São João e segue por essa avenida até encontrar a Duque de Caxias. O desenho se fecha então novamente na rua Mauá. Entre esses traços principais, as ruas paralelas, onde encontra-se realmente a maior presença do meretrício: alameda Barão de Limeira, rua Guaianases, avenida Rio Branco, rua dos Andradas, rua dos Gusmões.

Se o centro era conhecido por ser o centro financeiro e de empregos da metrópole, logo passaria a ter outra cara. Além da presença das prostituitas, a região começou a atrair também a marginalidade e a boêmia paulistana. A área do Quadrilátero do Pecado não demorou a se tornar conhecida também como Boca do Lixo.