“Me paga uma bebida, querido?”
O pedido é o mais comum nas boates do centro. As garotas se apresentam aos clientes, conversam algumas palavras e não demoram a lançar a pergunta. Quem não está acostumado ao funcionamento das casas, pode estranhar o valor apontado nas comandas. Uma lata de cerveja nas Koquetel Drinks, por exemplo, sai por treze reais. A explicação para a inflação é simples. Do valor, seis reais vão para o bolso da garota que convencer alguém a bancar a bebida. Mas o homem que paga a cerveja ou um drinque também não está interessado apenas em beber. Por cada item marcado na comanda, ele pode ficar “namorando” a garota no sofá, com amassos, passadas de mão e até mesmo beijos de língua, dependendo da garota e da química entre ela e o cliente.
Nas casas da avenida Rio Branco, porém, o clima não esquenta muito e os drinques normalmente são apenas o começo do que vai terminar nos quartos. Em outras boates a coisa funciona de outra maneira. No Garota de Ipanema e na Thells, ambas na rua Aurora, uma garrafa de cerveja não corresponde somente a amassos. A recompensa pode ser uma punheta ou boquete ali mesmo em meio ao salão, nos sofás. Desse jeito, o bar acaba também faturando mais para a casa, já que os clientes tem mais motivos para pagar os exorbitantes preços cobrados pelos drinques. As mulheres que começam a freqüentar o local não demoram a perceber que é preciso se adaptar para conseguir lucrar o máximo possível.
Vivian, que chegou há três meses da Bahia para trabalhar nas boates de São Paulo, lembra que sofreu no começo. Em alguns lugares passou noites inteiras sem tirar um único centavo. Com o tempo, começou a observar e conversar com as outras meninas. Ouvindo a voz da experiência, as coisas melhoraram. “Antes eu não bebia quase nada. Agora aprendi que não tem jeito, tem que beber. Outra coisa é que com homem que não bebe eu nem perco tempo. Não vale a pena, não dá dinheiro”, explica. Vivian também precisou perder um pouco da timidez para agradar aos clientes. E mentir também. “Tem que elogiar, fazer um carinho, deixar o cara na vontade”. As mãos precisam ser hábeis e ir no ponto certo. Ela precisa ser rápida também no copo. Quanto mais secar as garrafas pagas pelos homens, menos tempo precisa perder com o cliente e mais comissão é arrecadada.
O movimento na boate também influencia o tratamento dado ao visitante. Se a casa está cheia, Viviane não perde tempo: é direta e dispensa rapidamente aqueles que não se animam a desembolsar os quinze reais cobrados pelas garrafas de cerveja. Se há poucos clientes, ela se esforça mais para convencer os homens e até mesmo diminui as próprias exigências. E o cliente pode ganhar uma chupada em troca de uma única garrafa, quando a recompensa normalmente vem apenas na segunda. A simpatia também pode render frutos. Ainda assim, ela ressalta que não tem como perder muito tempo com quem não está disposto a abrir a carteira – mesmo que a agrade. “O pessoal fica de olho. Se não tem garrafa em cima da mesa, não pode fazer nada”.
Para ganhar mais dinheiro, porém, ela e as outras meninas chegam a desobedecer as regras da casa. Em programas comuns, tira trinta reais por meia hora de sexo – outros trinta ficam para a boate. Para conseguir atrair o cliente com um preço menor e ao mesmo tempo evitar dar metade do valor do programa para a chefia, Viviane às vezes oferece uma rapidinha para o visitante ali mesmo nos sofás, desde que a gerente não esteja por ali. “Tem que ser meio discreto, mas dá pra fazer. E é meter de olho no balcão”, conta, divertindo-se com a situação. O que ela não faz, por mais que a oferta seja tentadora, é programa fora da casa. “Acho muito perigoso. A gente não sabe quem é a pessoa”.
Olá,
ResponderExcluirGostei muito do seu blog. Trabalho no site da ´
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Abraço,
Luciano