terça-feira, 19 de outubro de 2010

glamour e boca do lixo - versão argentina


a movimentada calle florida, em buenos aires, na argentina, é um centro comercial e turístico - repleta de lojas, ambulantes, cafés, casas de câmbio, artistas de rua. e boates. em todo ponto, além de senhores e senhoras gritando "cámbio, cámbio", para chamar os estrangeiros para suspeitos pontos de troca de dinheiro, há também outros, que, silenciosos, entregam panfletos avidamente. os mais visados são os homens, principalmente os estrangeiros, mas nem os locais e as mulheres conseguem evitar totalmente de acabar pegando um desses papéis. neles, fotos ou desenhos de mulheres nuas, além de números de telefone e preços. preços baixos, diga-se de passagem. trinta pesos - quase quinze reais - pelo programa, dizem os papéis. ou até menos.

quem vai com guias de turismo ou companheiros locais costuma ser logo advertido a não dar muito papo para os panfleteiros. eles reconhecem facilmente quem é de fora e, se percebem oportunidade, iniciam uma série de promessas para atrair o interessado à casa à qual estão vinculados. uma delas fica no andar debaixo de uma galeria, escondida atrás de uma cortina vermelha. no piso superior, casas de câmbio, lojas de roupa e até mesmo um sex shop. embaixo, somente a suspeita entrada do local.

o panfleteiro promete entrada gratuita e conduz o visitante até uma moça, que termina de levar o curioso até o local. ao entrar no recinto, tudo mais estranho ainda. sem música no fundo. lugar vazio. ambiente a meia luz, sem os neóns das boates. ninguém mais no estabelecimento. a mulher, semblante sério, dentes da frente estragados e língua presa, começa a falar. "consegue compreender?", pergunta, em espanhol. e então prossegue. explica como funciona o local.

"são oitenta pesos para entrar". não era de graça, como disse o sujeito dos panfletos? não. a entrada é gratuita se o cliente optar por tomar um drinque. ela mal fala isso e já aparece uma segunda mulher, uma velhinha rechonchuda, com uma bandeja na mão. nela, dois copos com um estranhíssimo líquido laranja um tanto desbotado. dois? "sim. tem que pagar um drinque para você e um para a menina". com isso, cento e vinte pesos, a mulher oferece a chance de ir para algum canto e fazer "algo a mais". "ou tudo", ela mesma diz.

ao questionar se é obrigatório pagar o drinque e a entrada - sendo que a promessa era de uma visita gratuita - a mulher dos dentes estragados se levanta e começa uma gritaria. a mais velha, que já havia se retirado, volta, e se junta a ela, reclamando. exigem dinheiro, os cento e vinte pesos dos drinques. com insistência, baixam para os oitenta da entrada e, ao fim, ainda sobre gritaria e discussão, acabam por aceitar qualquer valor.

certos estão os guias turísticos.

(este relato não faz parte de glamour e boca do lixo. é apenas para contar um "causo" durante passagem pela argentina, quando um dos autores do livro resolveu escrever um capítulo portenho póstumo para a obra).

3 comentários:

  1. Qual era o estado alcoólico do autor?

    Digas Costa - http://aooitavo.wordpress.com/

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  2. graças a deus sóbrio, senão tinha caído no golpito del puterito

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  3. Por que será que a prefeitura de São Paulo finge não ver essa sujeira toda no centro da cidade.

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