sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

por dentro de um privê - fast food do sexo


Patrícia passa o dia sentada em uma mesa de escritório. Com seus 46 anos, já apresenta alguns cabelos brancos, presos em um rabo de cavalo. Usa uma camiseta regata cinza, calça jeans larga, tênis. De pouco em pouco, puxa um caderno para anotar os programas que são feitos na casa que administra, um privê na rua Guaianases. A maior parte dos clientes chega por meio de adesivos colados em orelhões da região central. Chegam, sentam no sofá e esperam pelas mulheres. Elas chegam e se apresentam com beijo no rosto. É só escolher, pagar e ir para o quarto. As garotas cobram dez reais por dez minutos de sexo. Desse valor, metade fica para Patrícia.

“Tem menina que sai daqui para ir pra outro lugar, pros hotéis, pra Luz. Eu falo que aqui, se acontecer alguma coisa, ela grita que a gente vai ajudar, vai todo mundo para cima. Agora, se ela trabalha sozinha, o cara goza na boca dela, mete sem camisinha, bate nela e ninguém vai nem ouvir. Elas não dividem o programa com ninguém, mas tem que passar frio, agüentar bêbado chato, correr perigo”, argumenta.

Os tempos já foram piores para os negócios. Até a metade de 2009, a rua Guaianases era o principal ponto da Cracolândia. Usuários de crack e outras drogas passavam o dia e a noite por ali, assim como os traficantes. Hoje, com uma repressão mais forte da polícia, houve um alívio. Os nóias ainda circulam pela região, mas de forma menos intensa e não mais em grandes grupos, como há pouco tempo. “Eles não mexem com ninguém. No máximo pedem um trocado, um cigarro”, conta Patrícia.

Antes, porém, era mais complicado. “Às vezes eu descia para dar uma bronca quando ficava muita muvuca aqui na porta”. Ela ressalta, porém, que nunca foi assaltada ou ameaçada – ao contrário de amigas que possuem boates em regiões consideradas mais nobres, como a Augusta e Perdizes. Mas a mudança na rua não é atribuída somente à ação da polícia. “Juntamos com o pessoal que tem comércio aqui e começamos a pagar um segurança particular. Também começou a ter matéria de jornal direto, por isso que tiveram que fazer alguma coisa. Quando dava 18 horas, isso aqui ficava cheio. Os nóias tomavam um quarteirão inteiro aqui para trás, não passava carro, nada. Os clientes tinham até medo de andar por aqui”.

Na região, as drogas se fazem presentes não só nas ruas. Muitas garotas de programa contam sobre homens que pagam para ir aos quartos e cheirar pó ou fumar pedras de crack. Às vezes oferecem dinheiro para a mulher consumir a droga junto com eles. Patrícia conta alguns casos, mas se diz contra a prática. “Eu já aviso as mulheres quando elas entram na casa que, se eu ver, chuto daqui. Na vida pessoal de cada uma eu não posso fazer nada. Se a menina quiser cheirar uma bacia inteira de pó com um canudinho, faz o que quiser. Mas aqui, não”.

Outra reclamação da gerente é sobre confusões com os clientes. “Uns caras são chatos demais. Chegam aqui para aliviar o stress e vão embora piores ainda, porque não gozaram”. A principal reclamação dos homens é quanto ao tempo. A maioria paga por apenas dez minutos de sexo. Alguns broxam e começam a reclamar. “Eu já falo: amigo, você tem que se conhecer, saber se vai conseguir ou não, quanto tempo vai levar. O cara fica bravo porque não funciona, não tá com cabeça, e fica xingando a menina, a casa”. Nesses casos, ela tenta sempre apaziguar a situação. “Tem que ter paciência, conversar, para não perder o cliente. Mas também não deixar o cara folgar demais”.

Em alguns casos, a coisa é mais séria. “Já teve cara que entrou no quarto e quando saiu falou que não tinha dinheiro pra pagar”, lembra Patrícia. Hoje, isso não acontece mais, já que é tudo pago antecipadamente. Mas ela ainda lembra da história. “A gente juntou as meninas, deu umas porradas nele e mandou embora. Eu vou fazer o quê, matar o cara? Ficar dando barraco é pior. Queima a casa, assusta as meninas”.

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